terça-feira, 30 de junho de 2009

O Mário Bortolotto num precisa de apresentação (atirenodramaturgo.zip.net), mas taí a apresentação magnífica que ele fez pra Copacabana. Valeu Mário!


QUEIMA DE FOGOS NO INFERNO
Tava me lembrando de um verso do Alvin L: “Conheça o inferno sem ter que morrer”. É mais ou menos a impressão que tive ao ler a história do Lobo nos traços flambados de Odyr que passam sempre a impressão de terem sido levemente chamuscados. É como se avisassem o tempo todo que com fogo não se brinca. “Copacabana” é aquele bilhete que você totalmente de ressaca encontra no bolso da calça de manhã. O bilhete da garota que você trombou ontem numa festa. E você sabe que a garota é encrenca, que ela tem um namorado de 2 metros que luta jiu-jitsu e que ela só quer mesmo é provocar às suas custas um sentimento egoísta no troglodita. Mas mesmo assim, você aparece na casa dela com meia dúzia de palavras bonitas e uma garrafa de vinho tinto mais ou menos vagabundo. É impossível resistir aos encantos de certas mulheres. É impossível resistir aos encantos de Copacabana. Lobo e Odyr sabem disso. E então inventaram a irresistível Diana que flana graciosamente por um bairro que é o “inferno sem ter que morrer”. Não há nenhuma possibilidade de se dar bem, mas mesmo assim você insiste em acreditar que é a sua noite de sorte, que a traveca é mesmo uma princesa e que o whisky no puteiro não é falsificado. Ao nosso imaginário malandro que já tem a graciosa Mariana Moraes bancando a Fulaninha pela lente poética de David Neves, Fausto Fawcett e suas loiras míticas piranhudas e deliciosas, ou uma socialite desbocada e tesuda como Narcisa Tamborindeguy, soma-se agora a mulatinha safada e romântica de Lobo Mosh que na ansiedade de pagar uma dívida, cai literalmente de quatro num tsunami de roubadas perdendo totalmente qualquer controle que pudesse ter da situação. Pra acabar de ferrar tudo, a menina ainda lê histórias açucaradas e se envolve com o cara que escreve as histórias. Quase arrancam as pregas do sujeito, mas ainda assim, Lobo acredita que o amor pode vencer em Copacabana. Não tô dizendo que lá tudo é possível? Ou pelo menos você pode acreditar que é.
Então não se preocupe com Copacabana. Convide uma linda garota pra comer um cheese-egg-calabresa sentados na calçada. Talvez ela passe mal no dia seguinte, mas pelo menos ela vai se lembrar de você quando estiver tendo convulsões no vaso sanitário enquanto você está do outro lado do bairro assobiando calmamente uma bossa do Marcos Valle. Desça até o Cervantes e beba um chopp com Fausto Fawcett. Pergunte pelo Tavinho Paes e pelo Neville D´Almeida. Ande bêbado pelo calçadão de Copacabana na contra-mão dos atletas matutinos. Compre um livro do Chacal na “Baratos da Ribeiro”. Se apaixone por uma linda prostituta e a convide pra uma noite inesquecível no Che Lagarto Hostel Budget.
É que só desse bairro maluco, caótico e apaixonante, do meio de uma queima de fogos monumental pode surgir um improvável casal de namorados andando de mãos dadas pelo calçadão, saindo do inferno com o mesmo sentimento de alívio que costumamos sair do carrinho de montanha russa ou do bico sanguinolento de um pterodáctilo. Só mesmo Copacabana onde tudo é possível e onde você sempre vai acreditar que pode se dar bem. Leia essa história do Lobo e do Odyr e se possível vá mesmo até Copacabana conferir toda a bela encrenca. Há muitos velhinhos no bairro. Sente ao lado de um deles e pare de se preocupar tanto. Deixe que ele fale sobre as coisas do lugar. Apenas fique ouvindo o Homem discorrer com sua sabedoria e autoridade indiscutíveis. Em Copacabana, isso já aconteceu comigo. Deve ter acontecido com a dupla Lobo e Odyr. E ainda vai acontecer com você. Não há como escapar.
- Mário Bortolotto

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